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Inclusão educacional X aulas online: quando o distanciamento social não separa

Um apaixonado por esportes, especialmente o futebol, e que sonha em ser um jornalista esportivo quando crescer. É com essas características que Carlos Eduardo Campos, ou simplesmente Cadu, gosta de ser reconhecido. Para alcançar seu sonho, o menino de 12 anos sabe que é necessário muito esforço e dedicação, e segundo a Dra. Catherine Araujo, […]

Texto: Aira Annoroso

Cadu Campos estudando em casa através de aula online, e com o auxílio da plataforma E-class, desenvolvida para os alunos da Educação Adventista.

Um apaixonado por esportes, especialmente o futebol, e que sonha em ser um jornalista esportivo quando crescer. É com essas características que Carlos Eduardo Campos, ou simplesmente Cadu, gosta de ser reconhecido. Para alcançar seu sonho, o menino de 12 anos sabe que é necessário muito esforço e dedicação, e segundo a Dra. Catherine Araujo, psicopedagoga do Colégio UNASP campus São Paulo, essas são qualidades que o estudante tem de sobra.

Assim como Cadu, o aluno Miguel Vitoriano de 9 anos, também gosta muito de esportes, mas a preferência é pela natação e pelas aulas de Educação Física. Além disso, se interessa pela musicalização, mas sua paixão mesmo são os animais. “Desde pequeno sempre foi calmo, carinhoso e carismático, conquistou a simpatia dos professores pelas séries que passou”, afirma Cecília Vitoriano, mãe de Miguel.


Limitações

Cadu sofreu uma lesão cerebral (leucomalácia) ao nascer prematuramente, teve seu desenvolvimento físico e cognitivo comprometidos. Andréia Campos, mãe dele, explica que essa lesão limitou o movimento das pernas do filho, e quanto à parte cognitiva, afetou uma região específica do cérebro responsável pelo raciocínio matemático, especialmente no campo da álgebra.

“O Cadu foi uma criança muito desejada. Os médicos diziam que eu não poderia ter filhos. Dois dias após descobrir que estava grávida dele, tive um descolamento de placenta. A gravidez foi muito difícil, precisei ficar boa parte do tempo de cama porque eu corria o risco de perder o bebê”, revela. Com 30 semanas de gestação, Andréia deu à luz o Cadu, pesando 1,845 kg, que precisou ficar internado durante as primeiras semanas de vida. “Ele foi lutando todos os dias pela vida”, conta a mãe.

Com 10 meses, Andreia notou que o filho não sentava e não engatinhava. Através de uma ressonância magnética, descobriu que ele nasceu com leucomalácia. “Essa lesão causou uma paralisia cerebral de grau 3”, enfatiza.

O aluno Miguel, que tem Síndrome de Down, também encontra obstáculos. A mãe explica que a dificuldade dele é intelectual, que aprende por repetição e persistência, e que sua atenção é dispersa. “No momento ele reconhece as letras do alfabeto, mas não consegue juntá-las”, confirma Cecília, que entende que a aprendizagem é um processo e aos poucos Miguel vai se aperfeiçoando.

Inclusão educacional X aulas online

É fato quando dizem que o novo coronavírus mudou o mundo. A área educacional tem sentido fortemente os reflexos da pandemia e, segundo especialistas, continuará sentindo por tempo indeterminado. Levando isso em consideração, as aulas online foram o único meio viável de dar continuidade à aprendizagem dos alunos do Colégio UNASP.

Professora Marta Costa, do Colégio UNASP, durante aula online ao vivo com o aluno Miguel Vitoriano.

A atual professora de Miguel, Marta Costa, comenta que toda semana ela e outros professores do Colégio UNASP fazem um roteiro com atividades adaptadas em cada disciplina. “Preparamos vídeos interativos e lúdicos para a família trabalhar e acompanhar com a criança”, comenta. Durante as aulas online na plataforma Zoom, Miguel participa, interage com o grupo, apresenta suas pesquisas, maquetes e responde oralmente as questões adaptadas.

Marta ainda destaca que os colegas da turma o incentivam em suas participações, colaborando com o aprendizado. “As crianças não possuem limites para aprender, mas claro, precisamos muito do apoio da família e esse apoio e parceria eu tenho. Sendo assim, o aprendizado é muito satisfatório e rico”, argumenta.

Cadu tem uma rotina diferente de aulas, já que está no 7° ano e possui vários professores, onde cada um é responsável por uma disciplina. O Colégio UNASP tem oferecido aulas extras online, além da aula com a turma completa. Logo, os alunos que possuem algum tipo de dificuldade com alguma disciplina, principalmente os de inclusão, podem contar com um “reforço” dos professores que estão disponíveis em horários alternativos para ajudá-los. “Sempre tivemos o apoio do Colégio UNASP quanto ao desenvolvimento do Cadu, e mesmo nesse período longe o apoio continua”, reconhece Andreia.

Miguel durante apresentação de trabalho prático no Colégio UNASP, quando as aulas ainda eram presenciais.

Em tempos normais, antes da pandemia, ao receber o aluno novo pessoalmente, a instituição avaliava o caso individualmente e identificava junto aos pais as possibilidades do filho. “Existe uma análise e discussão contínua de cada caso com o objetivo de verificar novas estratégias, avaliar as dificuldades a fim de buscar sempre novas possibilidades”, enfatiza a Dra. Catherine Araujo, psicopedagoga do Colégio UNASP e responsável por orientar os professores na dinâmica de ensino dos alunos de inclusão.

De acordo com a doutora, após a pandemia, o cuidado com esses estudantes não foi esquecido. “Os professores e a equipe responsável estão em contato direto com os pais dos alunos que estão apresentando dificuldades. Estamos realizando reuniões pela plataforma Zoom, WhatsApp e por telefone”, assegura. “Tenho vários canais de comunicação direto com eles”, confirma Cecília, mãe de Miguel.

Sonhos

Assim como qualquer criança, as que estão no grupo de inclusão também possuem sonhos. Um dos maiores desejos do Cadu, por exemplo, é se tornar um grande jornalista e repórter esportivo. “O Mauro Naves é o melhor do mundo para mim, quero ser igual a ele quando eu crescer e for repórter também”, admite o menino. Suas limitações nunca o impediram de sonhar e acreditar que ele pode sempre progredir e atingir suas metas e objetivos.

Através da paixão pelo esporte e pelo jornalismo esportivo, Cadu e Mauro Naves se aproximaram e cultivaram uma grande amizade. “Meu melhor amigão”, disse Cadu em sua conta no Instagram monitorada pelos pais, se referido a Naves.

“Me honra e me emociona saber que o Cadu curte o meu trabalho e o tem como referência”, destaca o jornalista esportivo Mauro Naves. “O fato de nesse momento ele se interessar por jornalismo esportivo ou simplesmente por esportes é muito saudável. Através desse interesse pelo esporte, o Cadu já teve várias oportunidades de interagir com pessoas da área, tanto jornalistas quanto atletas, e não tenho dúvidas de que isso o estimula também. Apesar do seu problema físico nas pernas, através desses contatos ele pode ver que é possível sim ter um convívio social e até seguir uma carreira”, acrescenta Naves.

Em contrapartida, do outro lado o Cadu e outras crianças também recebem todo o incentivo para aprimorar suas habilidades e aperfeiçoar as áreas onde têm dificuldades, através da escola. “O Colégio UNASP não rotula o aluno, vê nele grandes possibilidades. Buscamos incentivar e nunca reduzir o aluno à dificuldade apresentada, mas sim àquilo que ele pode vir a ser”, enfatiza Catherine, com base em seus estudos no doutorado sobre distúrbios do desenvolvimento da criança. Contudo, a doutora frisa que o apoio dos pais é essencial nesse processo.

“O Cadu chegou onde chegou porque seus pais nunca limitaram a capacidade dele de aprender. Se analisarmos o diagnóstico inicial do Cadu e quem ele é hoje, é possível concluir que essa criança é um resultado do trabalho desenvolvido pela escola em parceria com a sua família”, conclui a especialista.

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