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Representante da Igreja Adventista na ONU fala sobre liberdade religiosa

No dia 7 de janeiro é comemorado o Dia Mundial da Liberdade de Culto. Em 2013, entre os dias 23 e 25 de maio, o Brasil sediou, em São Paulo, o II Festival Mundial de Liberdade Religiosa. Nesta ocasião, o pastor Ganoune Diop, que ministra na Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia e […]

Texto: Redação

No dia 7 de janeiro é comemorado o Dia Mundial da Liberdade de Culto. Em 2013, entre os dias 23 e 25 de maio, o Brasil sediou, em São Paulo, o II Festival Mundial de Liberdade Religiosa. Nesta ocasião, o pastor Ganoune Diop, que ministra na Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia e é o representante da denominação na ONU, concedeu à revista Click do Unasp SP a entrevista que você confere a seguir.

Qual a definição de liberdade religiosa para a Igreja Adventista mundial?

Diop: A liberdade religiosa é um dom de Deus. É como se fosse uma doação de Deus para o ser humano que Ele criou, para dar ao homem a capacidade de tomar decisões. Quando Deus criou o ser humano, criou a Sua imagem. Isso significa que Ele nos deu o poder para nos comunicar com Ele, e também para que tenhamos comunhão com Ele. Mas sem liberdade religiosa, sem livre arbítrio e sem liberdade de consciência não é possível fazermos um pacto com Deus. O amor não pode ser forçado.
Uma pessoa só pode entrar em um relacionamento de amor com Deus se decide fazer isso. Falta de liberdade de escolha passa a ser coerção, não é mais amor. Você não pode chegar para uma pessoa e dizer: “Você tem que me amar”. Deus nos dá esta liberdade, por isso ela é muito importante. O problema é que, em nosso mundo, os seres humanos estão acostumados a impor suas convicções sobre outros e isso viola a dignidade humana. É por isso que você tem totalitarismo e todo tipo de abuso aos seres humanos

Por que os cristãos devem defender a liberdade religiosa?

Diop: Quando os seres humanos defendem a liberdade religiosa, estão simplesmente se unindo a Deus, pois foi Deus quem criou, promoveu e defendeu a liberdade religiosa, porque Deus não força as pessoas. Quando Jesus se encontrava com seus discípulos, lhes dava, inclusive, o direito de O abandonarem, se quisessem. No evangelho de João, por exemplo, houve algumas pessoas que deixaram a companhia de Jesus, porque Ele estava dizendo algumas coisas muito difíceis de serem aceitas. Então Ele se voltou para Seus discípulos e perguntou, claramente: “Vocês também não querem ir com eles?” Isso significa dar uma escolha. Vou dar mais um exemplo. João e o seu irmão entraram numa vila samaritana com Jesus. As pessoas não queriam aceitar Jesus. Eles perguntaram: “Você quer que façamos chover fogo do céu para destruir todas estas pessoas?” Jesus os repreendeu: “Vocês não sabem que espírito está possuindo vocês agora”. Veja que, na mente de Jesus, aquelas pessoas tinham direito até de rejeitá-Lo. Então nós defendemos a liberdade religiosa porque queremos ser parceiros de Deus nas ações que faz. Para nós, adventistas, isso não é simplesmente uma questão humanista. Nos unimos a Deus nas ações que Ele faz.

Nas instituições de ensino há um ideal na questão da liberdade religiosa?

Diop: Quanto mais nós conhecemos a vontade de Deus e entendemos Seus planos, mais isso deve ser integrado ao nosso sistema educacional. Deveríamos tentar sensibilizar as pessoas com respeito aos direitos humanos. Num nível global, a comunidade internacional, as Nações Unidas (onde eu trabalho atualmente, porque minha principal função na Igreja é representá-la nas Nações Unidas) têm três pilares: paz e segurança, justiça e desenvolvimento e direitos humanos.
No âmago dos direitos humanos está a liberdade religiosa. Chamam isso de liberdade de religião ou crença. Mesmo as nações reconhecem em suas constituições o respeito ao direito de liberdade religiosa. Ontem (23 de maio de 2013) eu estava falando na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e me falaram que na constituição brasileira há um lindo artigo que fala sobre liberdade religiosa. Em toda a instituição adventista as pessoas deveriam estar cientes das leis que regem a constituição. Mas nós trazemos esta perspectiva singular porque nos unimos a Deus naquilo que Deus faz. A liberdade religiosa é um artigo da constituição de Deus. E ao nos alinharmos com aquilo que Deus faz, estamos também honrando nossa própria nação.

Quais são os desafios da liberdade religiosa hoje, principalmente na área educacional?

Diop: O primeiro desafio é a ignorância das pessoas sobre direitos humanos, falta de respeito à dignidade. Quando perceberem que os seres humanos são sagrados, então vão passar a se relacionar de maneira diferente. As pessoas respeitam os prédios, templos, igrejas e falam: “Puxa! Este é um lugar sagrado”, mas a Bíblia chama os seres humanos de templos do Espírito Santo. É por isso que eu digo que os seres humanos deveriam ser considerados sagrados. Eles não deveriam ser desonrados. A sua dignidade não deveria ser violada, e isso vale para todas as pessoas. O segredo disso é que o ser humano foi criado à imagem de Deus. O teste para a gente saber se as pessoas de fato respeitam a Deus é quando elas, de fato, respeitam os seres humanos que foram criados à imagem de Deus.
Em todo o sistema educacional, deveria fazer parte da cultura o respeito pelo outro, porque quando nós honramos as pessoas, honramos a Deus. No livro de Provérbios está dito que “Quem ou desprezar ou zombar do pobre, insulta o Criador”. Isso significa que Deus se identifica com os seres humanos. Por isso Jesus diz que “o que você fizer a um dos meus pequeninos, você também fez a mim”. Então, quando eu faço mal para um ser humano, estou fazendo mal a Deus. Essa é uma verdade muito importante, por isso Jesus disse: “Eu estava na prisão e você me visitou, estava com fome e você me deu comida, estava com sede e me deu o que beber, estava nu e você me vestiu”. Ele se identifica com as pessoas.

Como garantir liberdade religiosa quando há um confronto de liberdade religiosa com os direitos de grupos minoritários como homossexuais? Como a Igreja lida com este assunto?

Diop: Eu sei que esse é um assunto bem sensível aqui no Brasil. A proteção de uma minoria não deveria impedir que as pessoas expressassem sua opinião contra alguma coisa. Veja que a liberdade religiosa é algo que chamamos de liberdade composta, porque ela inclui várias outras liberdades, por exemplo, a liberdade de expressão. Todo mundo deveria ter o direito de dizer aquilo em que acredita e aquilo contra o qual se posiciona. Claro que você não vai ferir nem fazer mal às pessoas, mas pode dizer que é contra alguma coisa. É por isso que nós temos que tomar muito cuidado para que uma sociedade tipicamente secularizada não tire a religião da esfera pública.

Isso é não criar um preconceito?

Diop: Você deve ser capaz de dizer o que pensa sem que as pessoas o estigmatizem. Ter uma opinião não significa ter preconceito. Há mais valores que isso. Você tem que ter liberdade de revelar as causas que você defende e aquelas às quais você é contrário. Todo mundo tem o direito de dizer as coisas nas quais acredita. Nós não deveríamos, com isso, impedir os cristãos de expressar a sua insatisfação com respeito a algumas questões sociais. Deve haver respeito por todas as pessoas, mesmo quando as opiniões são diferentes. A liberdade religiosa é para todos.

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